sexta-feira, 16 de setembro de 2011

À conversa com... J. Rentes de Carvalho

Dia 30 de Setembro, às 21.30 horas, na Sala Couto Viana da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, vamos estar À conversa com... J. Rentes de Carvalho, a propósito do seu livro intitulado "La Coca".




O Autor
De ascendência transmontana, J.Rentes de Carvalho nasceu em 1930, em Vila Nova de Gaia, onde viveu até 1945. Frequentou no Porto o Liceu Alexandre Herculano, e mais tarde os de Viana do Castelo e de Vila Real, tendo cursado Românicas e Direito em Lisboa – onde cumpriu o serviço militar. Obrigado a abandonar o país por motivos políticos, viveu no Rio de Janeiro, em São Paulo, Nova Iorque e Paris, trabalhando para jornais como O Estado de São Paulo, O Globo ou a revista O Cruzeiro. Em 1956 passou a viver em Amesterdão, na Holanda, como assessor do adido comercial da Embaixada do Brasil. Licenciou-se (com uma tese sobre Raul Brandão) na Univ. de Amesterdão, onde foi docente de Literatura Portuguesa entre 1964 e 1988.

Dedica-se desde então exclusivamente à escrita e a uma vasta colaboração em jornais portugueses, brasileiros, belgas e holandeses, além de várias  revistas (...)



La Coca
Manuel Galeano - que sempre tivera  "o contrabando no sangue" - sumiu  antes do segundo encontro.  Inesperadamente, como cruzara o  caminho do seu velho conhecido em Amesterdão. O primeiro encontro, seguido de uma conversa saborosa no bar de um hotel, cheia de memórias de juventude e de algumas confidências do presente, é o ponto de partida para uma longa evocação e uma viagem sentimental: da história do tráfico entre o Minho e a Galiza - tráfico de cigarros, uísque, barras de ouro, gado e café e mais recentemente de narcóticos - e os seus protagonistas - Diogo Romano, El Min, Sito Miñano, o Pardal, o Pepe, Mustafé e o Laurestim-, que durante décadas enformaram o imaginário pícaro local; e a viagem de revisitação que o autor deste livro faz aos lugares da infância e da primeira idade adulta.

"!La Coca" é também uma investigação literária - que se materializa neste livro - e um pequeno tratado dos mecanismos da memória. Um romance breve, profundamente irónico e terno. E a escrita clara, brilhante, de Rentes de Carvalho.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

eNcaminha / Na Praça


Subi ontem à torre.
Enquadrada entre os merlões, pintada pela barraquinha dos legumes e invadida por chapéus-de-sol, parece de todo inoportuno chamar à Praça outros condimentos.
Incontornável…
Ocorre-me “El Min”.
Personagem real, quase lendária, com história curta mas fora de série. Assim se lhe refere J. Rentes de Carvalho em La Coca. Armado de correntes entremeadas de porcas de aço, “El Min” terá aqui assaltado, em plena Praça, um conhecido jornalista, especializado em casos de tráfico de droga.  
Ali, nas barbas do Chafariz… todo ele evocação de navegações e navegantes, curiosamente os mesmos que aqui fizeram chegar a Erva Sancta, que o Contrato do Tabaco, submetendo o seu comércio ao regime de monopólio estatal , há-de empurrar para o contrabando.

Dom Pedro por graça de Deos rey de Portugal e dos Algarves, d´áquem, e d´além Mar em África, Senhor da Guiné, e da Conquista, Navegação, Commércio da Ethiópia, Arábia, Pérsia e da Índia &c. Faço saber […] aos que este meu Alvará de Ley virem, que pela grande utilidade que se segue a meus Povos de conservar e aumentar o rendimento do Estanco do Tabaco, pois por esse effeito […] ficarão aliviados de outras contribuições, que pedião as necessidades do Reyno, e por essa mesma razão convem ao bem publico, evitar todos os meyos, que podem ser damnosos ao dicto rendimento […] [1]


[1] Alvará de Ley de 21 de Junho de 1703.


Reconhecendo-lhe alguns carácter sagrado, mágico e ritualista e outros um alto valor terapêutico, acesa terá sido a discussão, a crítica e repressão à volta desta exótica novidade e quando a suspeita de que a sua utilização diminuía a virilidade assustou o Poder, (sempre tão necessitado de peões para o xadrez da guerra) de pronto endureceu a repressão.

Contudo, cientes de que o que se veda e proíbe mais apetecido se torna […] governantes e Igreja intuem por fim uma radical mudança de estratégia, substituindo as medidas até então repressivas por outras mais pragmáticas: 
No ano de 1629 o Cardeal Richelieu estabelece o primeiro imposto sobre o Tacabo, e nem 50 anos serão passados e já Colbert surge como o primeiro inspirador do monopólio do fabrico e da venda, (decretado em 1674).

Entre nós, para que venha à notícia de todos, e se não possa allegar ignorância, o Alvará em forma de Ley, de 21 de Junho de 1703, será objecto de Edital enviado ao Administrador Geral de cada Distrito que o participará a todas as autoridades suas subalternas […] para seu conhecimento e execução.

No mostruário das flores existentes neste planeta, sobressai, uma planta solanácea, vulgo tabaco […] que se impôs graças, por um lado, aos seus modos insinuantes de consumo (cachimbo, rapé, charuto, cigarro) e, por outro, aquela “ prodigiosa química, com que pó e fumo, em prata e ouro se convertem (Pe Rafael Bluteau) [2].

LC/Agosto 2011


[2] Silva, A.(1986). A censura do Tabaco do Padre Jerónimo da Mota e dois escritos de Ribeiro Sanches (separata de Brácara Augusta – revista cultural de Regionalismo e Historia da Câmara Municipal de Braga, vol XXXIX de 1985, nº 87-88, p.10). Braga: ADB/UM