quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
ENQUANTO O PRÓXIMO CONVIDADO NÃO CHEGA
«Desenhámos com um graveto na areia molhada a viagem de Ulisses: navegara pelo Mediterrâneo, ultrapassando o Estreito de Gibraltar (Colunas de Hércules, diziam os antigos), contornando um pedaço do sul da Ibéria, passando pelo que depois seria o Algarve. Subiria ao longo da costa, talvez aportasse no que depois seria Alcácer do Sal ou logo a seguir no porto de Setúbal, chegaria a Lisboa, entraria a barra, subiria o rio desde a foz até ao Mar da Palha, onde o rio ainda salgado se espraia como um pequeno mar interior, que lhe lembraria o Mediterrâneo. E antes ou depois (mas provavelmente antes) de dar a esse lugar aprazível o seu nome, Ulisseum, teria navegado diante de Setúbal até Tróia, que então, na ausência do posterior assoreamento, ainda seria uma ilha.»
Enquanto o próximo convidado não chega folheemos de novo “A Cidade de Ulisses”. O último livro de Teolinda Gersão é, também, um livro de viagens, um livro de muitas viagens. Das viagens de Ulisses da guerra de Tróia ao regresso a Ítaca, das viagens de «um pequeno país de 89 mil quilómetros quadrados [que] colocou padrões de pedra, símbolo da sua presença e do seu domínio, numa área vastíssima do planeta […] do Atlântico ao Índico e ao Pacífico» e que malbaratou uma e outra vez as riquezas incomensuráveis que ia obtendo e é também uma viagem por Lisboa pela Ulisseum de Ulisses, «transformada depois em Olisipo através de uma etimologia improvável.» Uma viagem não de turista, uma viagem de viajante porque «o turista vai à procura de lugares para fugir de si próprio, da rotina, do stress, da infelicidade, do tédio, da velhice, da morte. Vê os lugares onde chega apenas de relance e não fica a conhecer nenhum, porque logo os troca por outros e foge para mais longe. O viajante vai à procura de si, noutros lugares que fica a conhecer profundamente porque nenhum esforço lhe parece demasiado e nenhum passo excessivo, tão grande é o desejo de se encontrar. As agências de viagens e os turistas só se interessam, obviamente, pelas cidades reais. Os viajantes referem as cidades imaginadas. Com sorte, conseguem encontrá-las. Ao menos uma vez na vida.»
Enquanto o próximo convidado não chega, dizia, deliciemo-nos com esta outra maravilhosa viagem por Lisboa.
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Teolinda Gersão
Reproduzimos aqui a opinião da escritora Teolinda Gersão a propósito da conversa realizada no passado dia 23 de Novembro na Biblioteca Municipal.
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
À conversa com... Teolinda Gersão
Dia 23 de novembro, às 21.30 horas, na Sala Couto Viana da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, vamos conversar com... Teolinda Gersão, a propósito do livro "A Cidade de Ulisses".
A Autora
Escritora portuguesa, nascida em
1940, formada em Filologia Germânica em Coimbra. Doutorada em 1976 e professora
catedrática da Universidade Nova de Lisboa, foi leitora de Português na
Universidade de Berlim e assistente na Faculdade de Letras de Lisboa. Autora de
vários trabalhos de crítica literária, recebeu duas vezes o prémio de ficção
PEN Clube, atribuído ao seu livro de estreia, O Silêncio, em 1981, e ao romance
O Cavalo de Sol, em 1989. Foi também galardoada com o Grande Prémio da
Associação Portuguesa de Escritores em 1995 e, na Roménia, com o Prémio de
Teatro Marele do Festival de Bucareste (adaptação da obra ao teatro) com o
romance A Casa da Cabeça de Cavalo. Em maio de 2003, o seu livro Histórias de
Ver e Andar foi galardoado com o Grande Prémio do Conto 2002 Camilo Castelo
Branco, da Associação Portuguesa de Escritores. A ficção de Teolinda Gersão
desenvolve, na escrita contemporânea, uma poética romanesca original, abrindo a
narração, a que o respeito pelas categorias de espaço, tempo, personagens,
intriga confere certa verosimilhança, a uma irradiação de sentidos que decorre
de um metaforismo assumido de forma estrutural pela narrativa. Não que as
personagens e as suas relações, os temas ou os seres se reduzam a um carácter
alegórico: o que ressalta é que por detrás da "história" estão em
conflito pulsões humanas universais, frequentemente centradas sobre a dinâmica
dos opostos (homem/mulher, caos/cosmos, racionalidade/loucura, entre outros). A
ilusão da transparência, obtida por uma ordem sintagmática nítida, pela
simplicidade da frase, despojada de tudo o que é acessório, pela redução do
número de personagens, pela simplificação da ação, confere, então, às suas
narrativas o estatuto de uma escrita mítica, cujo objetivo não é a representação,
mas o conhecimento. Ao mesmo tempo, cada uma das suas narrativas, desenvolvendo
até à exaustão algumas metáforas centrais (o cavalo, o teclado, etc.), desfibra
todo o tipo de alienação social e mental subjacente à rutura dos princípios de
harmonia invisível e de unidade íntima do homem com o universo. Como a pianista
(e a romancista) de Os Teclados, Teolinda Gersão, diante de um "mundo
fragmentário" e "indiferente", onde "as pessoas não
formavam comunidades e só havia valores de troca", um "mundo
vazio", persiste em tentar desvendar enigmas, como se a escrita e a
exigência de rigor fossem "a transcendência que restava":
"Aceitar o nada, o mundo vazio. E apesar disso, pensou levantando-se e
sentando-se no banco - apesar disso sentar-se e tocar."
O Livro
Um homem e uma mulher
encontram-se e amam-se em Lisboa. A sua história, que é também uma história de
amor por uma cidade, levará o leitor a percorrer múltiplos caminhos, entre os
mitos e a História, a realidade e o desejo, a literatura e as artes plásticas,
o passado e o presente, as relações entre homens e mulheres, a crise
civilizacional e a necessidade de repensar o mundo.
«Os turistas vão à procura de
lugares para fugirem de si próprios, e logo os trocam por outros e fogem para
mais longe. Os viajantes vão à procura de si noutros lugares, e nenhum esforço
lhes parece demasiado e nenhum passo excessivo, tão grande é o desejo de
chegarem ao seu destino. Com sorte conseguem encontrar a cidade que procuram.
Ao menos uma vez na vida.»
A opinião de Hélia Correia sobre a conversa
Aqui fica a opinião da escritora Hélia Correia a propósito da conversa realizada no passado dia 27 de outubro na Biblioteca Municipal.
domingo, 21 de outubro de 2012
EU SOU GREGO
Sempre que vou a Lisboa dou um salto ao Bairro Alto: subo a Calçada do Combro, meto pela rua do Poço dos Negros e viro, lá à frente, para a rua de S. Bento. Chegado ao palácio páro junto da escadaria e assesto o ouvido. Ao princípio é apenas um rumor, um som indistinto que parece provir de muito longe, mas logo que os ouvidos conseguem catalogar os mil ruídos da cidade, o som familiar de gritaria aí está para me lembrar que a vida segue o seu curso e eu posso seguir, então, o meu caminho. Lembrei-me desta minha peregrinação quando li o último livro de Hélia Correia, “A Terceira Miséria”. O longo poema começa por uma pergunta tomada de empréstimo ao poeta germânico Friedrich Hölderlin «Para que servem os poetas em tempo de indigência?» Ao longo da leitura do poema fui, paulatinamente, descobrindo a serventia dos poetas nestes tempos de desastre: os poetas servem para dar gritos! Não, claro, para gritarem, que para isso há muitos que o fazem muito melhor do que eles, mas para dar gritos! Gritos que se oiçam em toda a parte: gritos que se oiçam nas ruas, gritos que entrem pelas fábricas e pelas escolas adentro, gritos que despertem as vontades estuporadas, gritos que avivem as memórias, gritos que nos ensinem outra vez a perguntar, gritos que não nos deixem soçobrar, gritos estridentes que consigam, até, trespassar as espessas paredes dos gabinetes asséticos onde “eles” se acoitam. É disso que se trata: do grito que se vai formando nas gargantas da gente do Sul, da gente que um dia ainda se desnorteia.
O poema é também uma homenagem à Grécia à «bela Atenas, a que viu aparecer entre os homens a justiça e a livre palavra». Há dois mil anos, diz-nos Marguerite Yourcenar, o imperador Adriano confidenciava ao seu filho adotivo Marco Aurélio: «Foi em latim que eu administrei o império; o meu epitáfio será inciso em latim nas paredes do meu mausoléu na margem do Tibre, mas é em grego que eu terei pensado e vivido.» A um imperador não é permitido revelar aos súbditos o mais profundo da sua alma por isso Adriano disse assim o seu amor e a sua admiração pela Grécia. Hélia Correia que é imperatriz noutro império que a não obriga a estas reservas di-lo, por isso, com todas as palavras ao longo de todo o poema. E no fim somos todos instados a escolher o nosso lado da barricada: eu sou grego!
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
MANUEL ANTÓNIO PINA
Morreu um homem cuja palavra incomodava muita gente.
A sua inteligência, cultura, coerência, o seu desassombro, o seu inconformismo, a sua forma de estar ncomodavam muitos mais.
As suas crónicas diárias no JN criticavam, desvendavam, atacavam e homenageavam quem merecia.
Dele ficaram belíssimos textos e poemas como este:
TODAS AS PALAVRAS
As que procurei em vão,
principalmente as que estiveram muito perto,
como uma respiração,
e não reconheci,
ou desistiram e
partiram para sempre,
deixando no poema uma espécie de mágoa
como uma marca de água impresente;
as que (lembras-te?) não fui capaz de dizer-te
nem foram capazes de dizer-me;
as que calei por serem muito cedo,
e as que calei por serem muito tarde,
e agora, sem tempo, me ardem;
as que troquei por outras (como poderei
esquecê-las desprendendo-se longamente de mim?;
as que perdi, verbos e
substantivos de que
por um momento foi feito o mundo.
E também aquelas que ficaram,
por cansaço, por inércia, por acaso,
e como quem agora, como velhos amantes sem
desejo, desfio memórias,
as minhas últimas palavras.
Por favor, leiam-no.
Isabel Campos
terça-feira, 16 de outubro de 2012
À conversa com... Hélia Correia
Dia 26 de Outubro, às 21.30 horas, na Sala Couto Viana da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, vamos conversar com... Hélia Correia, a propósito do livro "A Terceira Miséria".
A Autora
Hélia Correia nasceu em Lisboa.
Licenciada em Filologia Românica, foi professora do ensino secundário. Poetisa
e dramaturga, foi enquanto ficcionista que Hélia Correia se revelou como um dos
nomes mais importantes e originais surgidos durante a década de 80, ao
publicar, em 1981, O Separar das Águas.
Seguiram-se romances como Montedemo, Insânia, A
Casa Eterna (Prémio
Máxima de Literatura, 2000), Lillias Fraser (Prémio de
Ficção do PEN Clube, 2001, e Prémio D. Dinis, 2002), Bastardia (Prémio Máxima de Literatura, 2006), e Adoecer (Prémio da Fundação Inês de Castro,
2012).
Na poesia, tem uma vasta
colaboração em antologias e jornais e publicou obras como A Pequena Morte/Esse Eterno Canto (em díptico com Jaime Rocha) e Apodera-te
de Mim.
A sua escrita para teatro tem
privilegiado os clássicos gregos. Destaca-se Perdição ─ Exercício sobre Antígona, O
Rancor ─ Exercício sobre Helena, e Desmesura
─ Exercício com Medeia.
Para a infância, salienta-se os
livros da colecção Mopsos, o Pequeno Grego: O
Ouro de Delfos e A
Coroa de Olímpia. Destaque também para as suas versões das obras de
Shakespeare, Sonho de Uma Noite de Verão ─ Versão
Infantil e A
Ilha Encantada ─ Versão para Jovens de A
Tempestade. Em 2011 publicou A Chegada de Twainy (infanto-juvenil).
A sua obra mais recente,
publicada em Fevereiro de 2012, intitula-se A Terceira Miséria.
O livro
«O regresso de Hélia Correia à
poesia é um regresso à memória e aos clássicos. É isso que explica o título
deste longo poema dividido em 32 secções: “A terceira miséria é esta, a de
hoje. / A de quem já não ouve nem pergunta. / A de quem não recorda.”» (…)
A «paixão pela Grécia, desde há
muito presente na obra de Hélia Correia, desagua agora neste livro de poesia,
onde a Grécia clássica surge como farol e como impossibilidade: “Para onde
olharemos? Para quem? / Certo é que Atenas se mantém oculta / E de algum modo
intacta, por debaixo / Do alcatrão, do ferro retorcido. / Certo é que nunca
ressuscitará / Visto que nada ressuscita.”»
[Carlos Vaz Marques, TSF]
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
À conversa com... João Ricardo Pedro
Comentário de João Ricardo Pedro a propósito da conversa realizada na
Biblioteca Municipal de Viana do Castelo
domingo, 23 de setembro de 2012
SÓ TENHO PARA ISTO UM ADJETIVO
«Graças a Deus», pensou ainda o Doutor Augusto Mendes, dirigindo-se ao recém-empossado Presidente da Junta de Salvação Nacional, «tiveste o bom senso de não aparecer com o teu ridículo monóculo. Ou as letrinhas do comunicado são assim tão miudinhas? Não me digas que te viste obrigado, à última da hora, a usar os óculos de ver ao perto? Não acredito. Ai, deves ter ficado tão fodido quando percebeste que não podias aparecer neste momento histórico com o teu ridículo monóculo. Quem é que escreveu esta merda? Só vejo mosquitos, porra. Tragam-me os óculos».
Ontem, quando acabei de ler o livro de estreia de João Ricardo Pedro, lembrei-me de outro almirante. Não um almirante daquela armada séria que apaziguava os temores do doutor Augusto Mendes mas de outra que gostava tanto da água como qualquer gato vadio. Um almirante que, durante dezasseis longos anos, nos habituamos a ver, tesoura em punho, segando tudo o que lhe estendessem à frente. Conta-se que, na inauguração de uma obra qualquer do regime, depois de, com ar entendido, ter admirado a construção, sentenciou: «Só tenho para isto um adjetivo: gostei!»
A obra estende-se por três gerações: o avô, Doutor Augusto Mendes, médico, de boas famílias da cidade do Porto, que um dia, cansado da vida atribulada do hospital, decidiu aventurar-se para lá do Fundão, passando Alpedrinha, na casa do demónio de onde até as cobras fogem, para ser apenas um médico de aldeia; António, o filho, acossado pelos demónios da guerra colonial. Aldeias inteiras. Mães aos gritos. Palhotas, estás a ver? Ardiam num fósforo. Os corpos demoravam mais tempo. O cheiro; e Duarte, o neto, um exímio pianista, tentando desenvencilhar-se neste ambiente que, como diria o poeta, paira à tona de água, com a mãe a lutar para que tudo não se afunde definitivamente: «Eu estou a morrer, Duarte. E o teu pai ama-te muito, e vai precisar muito de ti. Tens de o tentar compreender…».
Pelas páginas do livro perpassam os êxitos e as adversidades, talvez mais estas do que aqueles, das três gerações da família. Numa linguagem escorreita, tomamos conhecimento de histórias hilariantes: o episódio do Amável um menino triste, franzino, doente e efeminado que um dia abalou para África e que, apesar dos boatos que o davam rico com propriedades imensas no norte de Angola e mais de quinhentos pretos ao seu serviço, regressou, vinte anos depois, como tinha partido e, se possível, ainda mais amarelento. Condoída pelo seu estado, toda a aldeia para lá do Fundão, ainda depois de Alpedrinha, meteu mãos à obra e em cinco dias reconstruiu a casa que tinha sido dos pais. Mas o Amável não dava sinal de melhora, cada dia mais débil, mais febril, até que o obrigaram a ir ao consultório do Doutor Augusto Mendes. Com o conhecimento de quase sessenta anos de prática clínica e algumas apalpadelas, o médico sentenciou que o seu problema estava na “tripa”. Mandou-o baixar as calças e colocar-se de gatas, e aviou-lhe um valente clister. Depois de devidamente esvaziado pode verificar-se que o causador de tamanho desarranjo tinha sido um saquinho de plástico cheio de diamantes. O livro fala-nos, até, dos inolvidáveis golos do Mário Kempes no campeonato do mundo de setenta e oito e do valente Manuel Zeferino que, não sendo um Nicolau nem um Trindade e muito menos um Agostinho, bastava olhar para ele para se ver que era bom rapaz.
Fala de tudo isto e de muito mais. E fala, ainda, das mulheres. Uma homenagem às mulheres. De capítulo inteiro. Um quase poema com algo de épico a fazer lembrar aqueloutro que fala da Luísa da Calçada de Carriche. Uma homenagem ao trabalho, à coragem e à sabedoria das mulheres e que termina assim: «Tenho um cancro.» Encostou a mão ao seio esquerdo e disse: «Aqui.» Depois disse: «Vou ser operada na segunda feira, amanhã dou entrada no hospital.» Depois disse: «A despensa está cheia, fiz bacalhau com natas, que está no congelador, e uma panela de sopa.» Depois disse: «No congelador também há bifes e hambúrgueres e costeletas.» Depois disse: «Devo ficar internada, pelo menos, uma semana depois logo se vê.» Não disse mais nada.
Pese embora a obstinação da Dona Laura, deixando bem claro que o que quer que estivesse a acontecer no País, ali em casa tudo permaneceria na mesma, pela obra parece perpassar uma certa mágoa pela chegada tardia do 25 de Abril. Policarpo, que anos antes tinha trocado o país pela civilizada Europa de Newton, Lavoisier e Descartes, a bendita Europa, que, se formos a ver, só começa em atravessando os Pirenéus, escreveria ao amigo Augusto depois da revolução: «Agora já estou velho, já não volto. Agora já é tarde.»
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
À conversa com... João Ricardo Pedro
Dia 28 de Setembro, às 21.30 horas, na Sala Couto Viana da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, vamos conversar com... João Ricardo Pedro, a propósito do livro "O teu rosto será o último".
O Autor
O Autor
João Ricardo Pedro nasceu em 1973, na Reboleira, Amadora. Curioso acerca da força de Lorentz, licenciou-se em Engenharia Eletrotécnica pelo Instituto Superior Técnico. Durante mais de uma década, trabalhou em telecomunicações sem, no entanto, alguma vez ter aplicado as admiráveis equações de Maxwell. Na primavera de 2009, em consequência do carácter caprichoso dos mercados, achou-se com mais tempo do que aquele de que necessitava para cumprir as obrigações do quotidiano. Num acesso de pragmatismo, começou a escrever. O Teu Rosto Será o Último é o seu romance de estreia.
O livro
Tudo começa com um homem saindo de casa, armado, numa madrugada fria. Mas do que o move só saberemos quase no fim, por uma carta escrita de outro continente. Ou talvez nem aí. Parece, afinal, mais importante a história do doutor Augusto Mendes, o médico que o tratou quarenta anos antes, quando lho levaram ao consultório muito ferido. Ou do seu filho António, que fez duas comissões em África e conheceu a madrinha de guerra numa livraria. Ou mesmo do neto, Duarte, que um dia andou de bicicleta todo nu.
Através de episódios aparentemente autónomos - e tendo como ponto de partida a Revolução de 1974 -, este romance constrói a história de uma família marcada pelos longos anos de ditadura, pela repressão política, pela guerra colonial.
Duarte, cuja infância se desenrola já sob os auspícios de Abril, cresce envolto nessas memórias alheias - muitas vezes traumáticas, muitas vezes obscuras - que formam uma espécie de trama onde um qualquer segredo se esconde. Dotado de enorme talento, pianista precoce e prodigioso, afigura-se como o elemento capaz de suscitar todas as esperanças. Mas terá a sua arte essa capacidade redentora, ou revelar-se-á, ela própria, lugar propício a novos e inesperados conflitos?
terça-feira, 17 de julho de 2012
À conversa com... Frei Fernando Ventura
Mensagem de Frei Fernando Ventura a propósito da conversa realizada na Biblioteca Municipal de Viana do Castelo.
Frei Fernando Ventura
Fotorreportagem da conversa com Frei Fernando Ventura na Biblioteca Municipal de Viana do Castelo no dia 13 de julho de 2012.
segunda-feira, 9 de julho de 2012
À conversa com... Frei Fernando Ventura
Dia 13 de Julho, às 21.30 horas, na Sala Couto Viana da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, vamos conversar com... Frei Fernando Ventura, a propósito do livro "Do eu solitário ao nós solidário".
O Autor
Frei Fernando Ventura, franciscano capuchinho, nasceu em 1959. Teólogo e biblista, foi professor de Ciências Religiosas no ISCRA em Aveiro. É intérprete na Comissão Teológica Internacional da Santa Sé. Colabora, como tradutor, com diversos organismos internacionais, como a Ordem dos Capuchinhos, a OFS e a Federação Bíblica Mundial. Pertence ao quadro de redactores da revista Bíblica, onde assina artigos de aprofundamento teológico. Autor do primeiro estudo sobre Maria no Islamismo, lançou o livro Roteiro de Leitura da Bíblia (Editorial Presença). Ministra cursos e retiros, percorre o mundo, de convite em convite ou de conferência em conferência, como tradutor. É assíduo comentador de actualidade social e religiosa na SIC Notícias. A TSF escolheu-o como “figura do ano” em 2010.
O Livro
O Autor
Frei Fernando Ventura, franciscano capuchinho, nasceu em 1959. Teólogo e biblista, foi professor de Ciências Religiosas no ISCRA em Aveiro. É intérprete na Comissão Teológica Internacional da Santa Sé. Colabora, como tradutor, com diversos organismos internacionais, como a Ordem dos Capuchinhos, a OFS e a Federação Bíblica Mundial. Pertence ao quadro de redactores da revista Bíblica, onde assina artigos de aprofundamento teológico. Autor do primeiro estudo sobre Maria no Islamismo, lançou o livro Roteiro de Leitura da Bíblia (Editorial Presença). Ministra cursos e retiros, percorre o mundo, de convite em convite ou de conferência em conferência, como tradutor. É assíduo comentador de actualidade social e religiosa na SIC Notícias. A TSF escolheu-o como “figura do ano” em 2010.
O Livro
Trata-se de uma conversa intimista e sem preconceitos sobre Deus, o Homem e o Mundo.
Divagações e reflexões sobre a actualidade com viagens ao passado para melhor podermos escolher um caminho de futuro.
terça-feira, 26 de junho de 2012
À conversa com José Eduardo Agualusa
Mensagem do escritor José Eduardo Agualusa a propósito da conversa realizada na Biblioteca Municipal.
terça-feira, 19 de junho de 2012
A CABRA DO SR. SEGUIN E O RETIRO DE LUDO
Como quereis que tenha saudades do vosso Paris barulhento e sombrio? Estou tão bem no meu moinho!
Ludovica Fernandes, que haveria de delapidar o grosso de uma farta biblioteca, colmatando com os livros a eletricidade e o gás que lhe iam chegando aos repelões, nunca terá conseguido separar-se das cartas de Daudet. Quando a promessa de um novo dia, mal tinha ainda abandonado as águas cálidas do Índico, imagino-a a subir as escadas de caracol agarrada ao seu tesouro. No terraço, enquanto deixava que a vista se espraiasse pelo mundo hostil que a cercava, abria o livro na história de Blanquette, a bela cabrinha de sedosa pelagem branca que amava a liberdade, e então, começava a ler. Apesar de ter uma bela vida na quinta do senhor Seguin, no verdejante vale do Ródano, Blanquette olhava o horizonte e sentia o apelo das montanhas distantes. Uma manhã, apesar dos esforços em contrário do dono, Blanquette fugiu. Durante todo o dia andou alegre, correndo pela montanha, guiada pelo instinto, inebriada pelos mil cheiros e sabores das plantas que nunca tinha visto. Ao cair da noite a cabrinha pressente o perigo. Podia ainda regressar à segurança da quinta mas lembrando-se que voltaria a ser amarrada ao poste, atira para longe esse pensamento, vira-se e enfrenta corajosamente o lobo. Lutará com ele toda a noite mas ao alvorecer o lobo lançar-se-á, finalmente, sobre ela e comê-la-á. Imagino Ludovica a ler uma e outra vez a aventura épica de Blanquette, admirando-lhe a coragem. Muitos anos depois, quando a vista lhe começou a pregar partidas e nem a mais potente lupa lhe conseguia desenredar o emaranhado nebuloso das letras, Ludovica haveria de ensinar o pequeno Sabalu a ler. Imagino-os sentados no terraço do prédio dos invejados, debaixo do céu de chumbo de Luanda. O órfão contava à velha senhora a história da sua vida: sabe avó, a minha mãe me morreu quando eu era criança. […] Converso com ela, mas me faltam as mãos com que me protegia. A velha senhora, condoída, abraçava, então, o petiz. E assim, aninhado na segurança do colo da anciã, começava a ler: Hás-de ser sempre o mesmo meu pobre Gringoire!...
Teoria Geral do Esquecimento, o último livro de José Eduardo Agualusa fala-nos de um tempo de ódios e vinganças. Fala-nos dos anos de chumbo dos alvores da nação Angolana. Fala-nos de um tempo em que, para preservar a revolução socialista se permitiriam, utilizando um eufemismo grato aos agentes da polícia política, certos excessos. É para fugir a este clima que a aterroriza que Ludovica Fernandes ergueu uma parede que a separou do mundo. Assim emparedada viverá por mais de vinte anos até que Sabalu, com meia dúzia de violentas pancadas de picareta, abriu um buraco na parede. E a velha senhora que recebia as notícias do mundo coadas pelo discernimento estreito do jovem órfão que um dia lhe entrou em casa com o intuito de roubar, pôde então perceber que o tempo era outro. Os angolanos já não se matavam uns aos outros como cães raivosos. Estavam a chegar generais e ministros, pessoas com dinheiro para comprar prédios elegantes e passados imaculados.
Hoje, felizmente, a guerra já não atormenta a nação angolana. Como alguém dizia, a maldade também precisa descansar. Pena que nem todos consigam fazer o exercício do Pequeno Soba. Ele que fugiu da cadeia num caixão e teve direito a um funeral improvisado, ganhou o hábito de se visitar no dia da sua suposta morte, levando flores para si mesmo. Diante da sua campa reflete sobre a fragilidade da vida e pensa em si mesmo como num parente próximo. Pesa as qualidades e os defeitos e no merecimento das suas lágrimas. E então, quase sempre, Pequeno Soba chora um pouco. Que lágrimas brotariam outros se tivessem também a capacidade de se visitarem na campa?
Alphonse Daudet, Cartas do Meu Moinho
Ludovica Fernandes, que haveria de delapidar o grosso de uma farta biblioteca, colmatando com os livros a eletricidade e o gás que lhe iam chegando aos repelões, nunca terá conseguido separar-se das cartas de Daudet. Quando a promessa de um novo dia, mal tinha ainda abandonado as águas cálidas do Índico, imagino-a a subir as escadas de caracol agarrada ao seu tesouro. No terraço, enquanto deixava que a vista se espraiasse pelo mundo hostil que a cercava, abria o livro na história de Blanquette, a bela cabrinha de sedosa pelagem branca que amava a liberdade, e então, começava a ler. Apesar de ter uma bela vida na quinta do senhor Seguin, no verdejante vale do Ródano, Blanquette olhava o horizonte e sentia o apelo das montanhas distantes. Uma manhã, apesar dos esforços em contrário do dono, Blanquette fugiu. Durante todo o dia andou alegre, correndo pela montanha, guiada pelo instinto, inebriada pelos mil cheiros e sabores das plantas que nunca tinha visto. Ao cair da noite a cabrinha pressente o perigo. Podia ainda regressar à segurança da quinta mas lembrando-se que voltaria a ser amarrada ao poste, atira para longe esse pensamento, vira-se e enfrenta corajosamente o lobo. Lutará com ele toda a noite mas ao alvorecer o lobo lançar-se-á, finalmente, sobre ela e comê-la-á. Imagino Ludovica a ler uma e outra vez a aventura épica de Blanquette, admirando-lhe a coragem. Muitos anos depois, quando a vista lhe começou a pregar partidas e nem a mais potente lupa lhe conseguia desenredar o emaranhado nebuloso das letras, Ludovica haveria de ensinar o pequeno Sabalu a ler. Imagino-os sentados no terraço do prédio dos invejados, debaixo do céu de chumbo de Luanda. O órfão contava à velha senhora a história da sua vida: sabe avó, a minha mãe me morreu quando eu era criança. […] Converso com ela, mas me faltam as mãos com que me protegia. A velha senhora, condoída, abraçava, então, o petiz. E assim, aninhado na segurança do colo da anciã, começava a ler: Hás-de ser sempre o mesmo meu pobre Gringoire!...
Teoria Geral do Esquecimento, o último livro de José Eduardo Agualusa fala-nos de um tempo de ódios e vinganças. Fala-nos dos anos de chumbo dos alvores da nação Angolana. Fala-nos de um tempo em que, para preservar a revolução socialista se permitiriam, utilizando um eufemismo grato aos agentes da polícia política, certos excessos. É para fugir a este clima que a aterroriza que Ludovica Fernandes ergueu uma parede que a separou do mundo. Assim emparedada viverá por mais de vinte anos até que Sabalu, com meia dúzia de violentas pancadas de picareta, abriu um buraco na parede. E a velha senhora que recebia as notícias do mundo coadas pelo discernimento estreito do jovem órfão que um dia lhe entrou em casa com o intuito de roubar, pôde então perceber que o tempo era outro. Os angolanos já não se matavam uns aos outros como cães raivosos. Estavam a chegar generais e ministros, pessoas com dinheiro para comprar prédios elegantes e passados imaculados.
Hoje, felizmente, a guerra já não atormenta a nação angolana. Como alguém dizia, a maldade também precisa descansar. Pena que nem todos consigam fazer o exercício do Pequeno Soba. Ele que fugiu da cadeia num caixão e teve direito a um funeral improvisado, ganhou o hábito de se visitar no dia da sua suposta morte, levando flores para si mesmo. Diante da sua campa reflete sobre a fragilidade da vida e pensa em si mesmo como num parente próximo. Pesa as qualidades e os defeitos e no merecimento das suas lágrimas. E então, quase sempre, Pequeno Soba chora um pouco. Que lágrimas brotariam outros se tivessem também a capacidade de se visitarem na campa?
terça-feira, 12 de junho de 2012
À conversa com... José Eduardo Agualusa
Dia 22 de Junho, às 21.30 horas, na Sala Couto Viana da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, vamos conversar com... José Eduardo Agualusa, a propósito do seu último livro intitulado "Teoria Geral do Esquecimento".
Teoria Geral do Esquecimento
José Eduardo Agualusa nasceu na cidade do Huambo, em Angola, a 13 de Dezembro de 1960. Estudou Agronomia e Silvicultura em Lisboa. Nos últimos 10 anos tem vivido entre Angola, Portugal e o Brasil. Iniciou a sua carreira literária em 1988, com a publicação de um romance histórico, A Conjura.
É autor de uma vasta obra que inclui romances, novelas, contos, crónicas, teatro, livros infantis, um livro de reportagens e um relato de viagens. As suas obras estão publicadas em mais de vinte países. Ao seu romance O Vendedor de Passados foi atribuído o Prémio Independent – Ficção Estrangeira.
Teoria Geral do Esquecimento é o seu mais recente romance.
Teoria Geral do Esquecimento
Luanda, 1975, véspera da Independência. Uma mulher portuguesa, aterrorizada com a evolução dos acontecimentos, ergue uma parede separando o seu apartamento do restante edifício - do resto do mundo. Durante quase trinta anos sobreviverá a custo, como uma náufraga numa ilha deserta, vendo, em redor, Luanda crescer, exultar, sofrer. Teoria Geral do Esquecimento é um romance sobre o medo do outro, o absurdo do racismo e da xenofobia, sobre o amor e a redenção.
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