Mas, pensando melhor, não seria este pormenor que me demoveria. E lá respondi ao desafio, confessando as minhas insuficiências. Findo o prazo dado pelo organizador um júri reunia para apreciar as respostas e as melhores recebiam prémios: livros com uma artística dedicatória do engenheiro. No desafio do Érico os jurados decidiram premiar um concorrente que aconselhou o primeiro volume do “Tempo e o Vento” que disse ter lido durante uma noite, das onze às sete, terminando ainda a tempo de se vestir e ir para as aulas – não consegui apurar se o júri premiou a rapidez da leitura ou a recomendação da obra -, uma concorrente que aconselhou, também, o “Tempo e o Vento” que disse, nostálgica, trazer-lhe à memória os tempos em que viveu no Brasil, e, talvez como forma de incentivo à leitura, um terceiro concorrente que não tendo lido nada de Veríssimo, prometia fazê-lo.
Hoje Érico Veríssimo já não engrossa a minha lista dos autores à espera de serem descobertos. Entretanto, uma querida amiga, talvez condoída por essa falta imperdoável, emprestou-me o “Olhai os Lírios do Campo” que li embevecido pelo conteúdo e preocupado com a carneira da encadernação e os dourados da lombada.
Lembrei-me desta pequena história durante a leitura do “Ler Régio” de Eugénio Lisboa. Nunca li nada do José Régio – não teve comigo melhor sorte que o gaúcho – mas, por cada página que leio do Lisboa, mais cresce em mim a vontade de o conhecer.
Vou acrescentá-lo à minha lista.
carlos ponte
Post Scriptum: Mau grado a extensão e o ecletismo da sua obra, Régio é um autor esquivo. Ele que vezes sem conta confidenciava aos amigos a amargura de não ser reconhecido, «estas coisas envenenam-me», dizia, nunca foi homem de procurar as luzes da ribalta: talvez que o despeito o não permitisse. À semelhança daqueles catos do deserto que apenas nos mostram o esplendor das suas flores muitas décadas depois, parecendo com isso testar a paciência dos homens, também José Régio se mostra comedido refutando sempre a exposição excessiva. A editora podia ajudar mas nem por aí: todos os seus títulos estão esgotados, ou, para utilizar uma linguagem comercial muito em voga, descontinuados.