sexta-feira, 2 de setembro de 2011

eNcaminha / Na Praça


Subi ontem à torre.
Enquadrada entre os merlões, pintada pela barraquinha dos legumes e invadida por chapéus-de-sol, parece de todo inoportuno chamar à Praça outros condimentos.
Incontornável…
Ocorre-me “El Min”.
Personagem real, quase lendária, com história curta mas fora de série. Assim se lhe refere J. Rentes de Carvalho em La Coca. Armado de correntes entremeadas de porcas de aço, “El Min” terá aqui assaltado, em plena Praça, um conhecido jornalista, especializado em casos de tráfico de droga.  
Ali, nas barbas do Chafariz… todo ele evocação de navegações e navegantes, curiosamente os mesmos que aqui fizeram chegar a Erva Sancta, que o Contrato do Tabaco, submetendo o seu comércio ao regime de monopólio estatal , há-de empurrar para o contrabando.

Dom Pedro por graça de Deos rey de Portugal e dos Algarves, d´áquem, e d´além Mar em África, Senhor da Guiné, e da Conquista, Navegação, Commércio da Ethiópia, Arábia, Pérsia e da Índia &c. Faço saber […] aos que este meu Alvará de Ley virem, que pela grande utilidade que se segue a meus Povos de conservar e aumentar o rendimento do Estanco do Tabaco, pois por esse effeito […] ficarão aliviados de outras contribuições, que pedião as necessidades do Reyno, e por essa mesma razão convem ao bem publico, evitar todos os meyos, que podem ser damnosos ao dicto rendimento […] [1]


[1] Alvará de Ley de 21 de Junho de 1703.


Reconhecendo-lhe alguns carácter sagrado, mágico e ritualista e outros um alto valor terapêutico, acesa terá sido a discussão, a crítica e repressão à volta desta exótica novidade e quando a suspeita de que a sua utilização diminuía a virilidade assustou o Poder, (sempre tão necessitado de peões para o xadrez da guerra) de pronto endureceu a repressão.

Contudo, cientes de que o que se veda e proíbe mais apetecido se torna […] governantes e Igreja intuem por fim uma radical mudança de estratégia, substituindo as medidas até então repressivas por outras mais pragmáticas: 
No ano de 1629 o Cardeal Richelieu estabelece o primeiro imposto sobre o Tacabo, e nem 50 anos serão passados e já Colbert surge como o primeiro inspirador do monopólio do fabrico e da venda, (decretado em 1674).

Entre nós, para que venha à notícia de todos, e se não possa allegar ignorância, o Alvará em forma de Ley, de 21 de Junho de 1703, será objecto de Edital enviado ao Administrador Geral de cada Distrito que o participará a todas as autoridades suas subalternas […] para seu conhecimento e execução.

No mostruário das flores existentes neste planeta, sobressai, uma planta solanácea, vulgo tabaco […] que se impôs graças, por um lado, aos seus modos insinuantes de consumo (cachimbo, rapé, charuto, cigarro) e, por outro, aquela “ prodigiosa química, com que pó e fumo, em prata e ouro se convertem (Pe Rafael Bluteau) [2].

LC/Agosto 2011


[2] Silva, A.(1986). A censura do Tabaco do Padre Jerónimo da Mota e dois escritos de Ribeiro Sanches (separata de Brácara Augusta – revista cultural de Regionalismo e Historia da Câmara Municipal de Braga, vol XXXIX de 1985, nº 87-88, p.10). Braga: ADB/UM 


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