quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

VOU ACRESCENTÁ-LO À MINHA LISTA

Talvez não seja uma pessoa de hábitos muito arreigados, ocorre-me agora. Em tempos visitei amiúde um blog gerido por certo engenheiro reformado do IST. Engenheiro do IST como não se cansava de nos recordar, lembrando-se, talvez, de um outro engenheiro de uma outra faculdade que, não lhe ganhando em sapiência, é certo, ganhar-lhe-ia, com toda a certeza, em notoriedade. Dizia eu que costumava visitar o engenheiro mas já há tempos que não passo lá por casa. Fez por estes dias dois anos. O engenheiro lançou, como aliás o fazia frequentemente, um desafio aos seus leitores que, a julgar pela rapidez com que os algarismos daqueles contadores de visitantes avançavam nas ordens rumo às classes, seriam imensos. Os leitores eram desafiados a indicarem num  pequeno texto, o livro de Erico Veríssimo que recomendariam a alguém que desconhecesse a obra do escritor, explicando a razão da sua escolha. E eu que estava a fim de aceitar de bom grado o desafio vi-me, de repente, perante um problema irresolúvel que deitava por terra qualquer veleidade que, eventualmente, pudesse ainda acalentar sobre o assunto: nunca tinha lido qualquer obra do brasileiro!
Mas, pensando melhor, não seria este pormenor que me demoveria. E lá respondi ao desafio, confessando as minhas insuficiências. Findo o prazo dado pelo organizador um júri reunia para apreciar as respostas e as melhores recebiam prémios: livros com uma artística dedicatória do engenheiro. No desafio do Érico os jurados decidiram premiar um concorrente que aconselhou o primeiro volume do “Tempo e o Vento” que disse ter lido durante uma noite, das onze às sete, terminando ainda a tempo de se vestir e ir para as aulas – não consegui apurar se o júri premiou a rapidez da leitura ou a recomendação da obra -, uma concorrente que aconselhou, também, o “Tempo e o Vento” que disse, nostálgica, trazer-lhe à memória os tempos em que viveu no Brasil, e, talvez como forma de incentivo à leitura, um terceiro concorrente que não tendo lido nada de Veríssimo, prometia fazê-lo.
Hoje Érico Veríssimo já não engrossa a minha lista dos autores à espera de serem descobertos. Entretanto, uma querida amiga, talvez condoída por essa falta imperdoável, emprestou-me o “Olhai os Lírios do Campo” que li embevecido pelo conteúdo e preocupado com a carneira da encadernação e os dourados da lombada.
Lembrei-me desta pequena história durante a leitura do “Ler Régio” de Eugénio Lisboa. Nunca li nada do José Régio – não teve comigo melhor sorte que o gaúcho – mas, por cada página que leio do Lisboa, mais cresce em mim a vontade de o conhecer.
Vou acrescentá-lo à minha lista.
carlos ponte


Post Scriptum: Mau grado a extensão e o ecletismo da sua obra, Régio é um autor esquivo. Ele que vezes sem conta confidenciava aos amigos a amargura de não ser reconhecido, «estas coisas envenenam-me», dizia, nunca foi homem de procurar as luzes da ribalta: talvez que o despeito o não permitisse. À semelhança daqueles catos do deserto que apenas nos mostram o esplendor das suas flores muitas décadas depois, parecendo com isso testar a paciência dos homens, também José Régio se mostra comedido refutando sempre a exposição excessiva. A editora podia ajudar mas nem por aí: todos os seus títulos estão esgotados, ou, para utilizar uma linguagem comercial muito em voga, descontinuados.

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