sexta-feira, 19 de outubro de 2012

MANUEL ANTÓNIO PINA

        Morreu um homem cuja palavra incomodava muita gente.
        
        A sua inteligência, cultura, coerência, o seu desassombro, o seu inconformismo, a sua forma de estar ncomodavam muitos mais.

        As suas crónicas diárias no JN criticavam, desvendavam, atacavam e homenageavam quem merecia.

        Dele ficaram belíssimos textos e poemas como este:

         
TODAS AS PALAVRAS
As que procurei em vão,
principalmente as que estiveram muito perto,
como uma respiração,
e não reconheci,
ou desistiram e
partiram para sempre,
deixando no poema uma espécie de mágoa
como uma marca de água impresente;
as que (lembras-te?) não fui capaz de dizer-te
nem foram capazes de dizer-me;
as que calei por serem muito cedo,
e as que calei por serem muito tarde,
e agora, sem tempo, me ardem;
as que troquei por outras (como poderei
esquecê-las desprendendo-se longamente de mim?;
as que perdi, verbos e
substantivos de que
por um momento foi feito o mundo.
E também aquelas que ficaram,
por cansaço, por inércia, por acaso,
e como quem agora, como velhos amantes sem
desejo, desfio memórias,
as minhas últimas palavras.



                  Por favor, leiam-no.

Isabel Campos

1 comentário:

  1. É verdade: de há cerca de três meses a esta parte que a última página do JN estava mais insípida. E assim ficará para todo o sempre.
    Olhando com atenção podemos ver hordas de bandalhos que por aí pululam, começarem a esfregar as mãos de contentes.

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