Há dias, em Quixadá, no sertão brasileiro, reuniram-se os Profetas da Chuva. Há já dezassete anos que estes observadores da natureza – assim mesmo, observadores da natureza, como gostam de ser chamados, não profetas. «Cada um tem seu jeito de observar a natureza. Por isso que eu costumo dizer que nós não somos profetas, mas sim observadores.» diz, a propósito, Ribamar Lima, um dos mais respeitados especialistas do encontro da Associação de Ovinos e Caprinos do Estado do Ceará -, há dezassete anos, dizia, que os profetas fazem as suas previsões. Este ano lá estiveram os trinta e cinco convidados expondo as previsões de chuva para o sertão. As mais das vezes fazem previsões avariadas e, mesmo que o mais reverenciado de todos, José Irismar, diga, como disse este ano, “que seca não vai ter”, chega março e os agricultores, aflitos, recorrem a S. José pedindo a chuva que lhes tinha sido prometida.
Ontem, em Guimarães, debaixo de uma chuvinha persistente, enquanto ouvia a arquitecta Alexandra, embevecida, a falar das casinhas oitocentistas da praça de Santiago e da mescla de cores da Agatha Ruiz de la Prada, no bairro da Senhora da Conceição, lembrei-me dos xamãs do Ceará. Imagino-os mirando e remirando o caminho das formigas, observando o ninho do João-de-barro ou avaliando o caule do mandacaru, e, no fim, com a solenidade que o grau lhes confere, profetizar o tempo.
O aniversário do clube de leitura é o pretexto para nos reunirmos ao derredor de uma mesa, de preferência farta. Para o mais habilitado do grupo fica a incumbência de preparar o programa e o submeter ao minucioso escrutínio dos restantes. Após a discussão que, diga-se em abono da verdade, não ultrapassa muito os limites da mesa, o programa é aprovado. De modo que, entrando março, sempre abençoados pela chuva, lá abalamos. Este ano, já se disse, o programa foi cumprido em Guimarães: o cultural à volta da herança da capital da cultura, o gastronómico dando luta ao bacalhau no forno e à posta mirandesa.
Voltando aos profetas da chuva: apesar da promessa de “chuvinha variada em janeiro e fevereiro” estamos em março e o Ceará continua sequioso. Parafraseando o grande Luiz Gonzaga, “ Na terra seca / Quando a safra não é boa / Sabiá não entoa / não dá milho e feijão”. De modo que, para o próximo aniversário, expondo a minha faceta mais solidária, proponho o sertão: a chuva, com certeza, não nos abandonará.
Curiosa essa tua associação! Na verdade, a reunião dos profetas da chuva parece procurar prognósticos para a ocorrência daquilo que no sábado todos sabíamos que não iria faltar: a chuva. Acredito que a manifestação, digamos, folclórica dos profetas sertanejos seja bem mais mediática e atrativa mas, dada a minha propensão para os prazeres da mesa e para o convívio com pessoas interessantes, dei o dia por bem ganho.
ResponderEliminarHelena Guerreiro