sábado, 23 de abril de 2011

DIA MUNDIAL DO LIVRO



“Lembro-me […] das tempestuosas prelecções que o Leandro recebia do tio, que terminavam em bofetadas […] de cada vez que topavam com uma palavra abstrusa que o pobre moço […] nunca conseguiu dizer correctamente. A aziaga palavra era «acelga», que ele pronunciava «a cega». Berrava-lhe o tio: «acelga, meu burro, acelga!», e o Leandro, já à espera da estalada, repetia: «A cega.» Nem a agressão de um nem a penosa angústia do outro valiam a pena, o pobre rapaz, ainda que o matassem, sempre haveria de dizer «a cega».”
in "As Pequenas Memórias", José Saramago


Para todos os que, apesar de terem aprendido a ler à estalada, não perderam o amor aos livros.


carlos ponte

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