terça-feira, 6 de março de 2012

OS LEGIONÁRIOS DO HOTEL BELLEVUE

Corria o ano de 1976. No distinto Hotel Bellevue-Sratford, em Filadélfia, mais de 200 veteranos da American Legion reuniam-se em congresso. Por essa altura começou a verificar-se a morte de algumas pessoas que em comum tinham o facto de serem legionários e terem assistido ao congresso de Filadélfia. De início dispensou-se ao assunto a importância que ele, realmente, tinha – que diabo, nem mesmo os legionários são eternos – mas, quando o número de óbitos começou a subir invulgarmente, as autoridades sanitárias começaram a averiguar. De início aventou-se a hipótese de uma nascente pandemia de gripe, hipótese descartada pouco depois, verificada a inexistência dos sintomas corriqueiros. Passou-se ao envenenamento por metais: este seria, com toda a certeza, a causa de tamanha desgraça. Novos exames e a descoberta que, se metais havia – e havia realmente -, estes tinham sido deixados pelos instrumentos dos médicos que se afadigavam na descoberta da origem do mal. E assim, entre promessas de pandemias e vestígios de níquel se consumiram seis longos meses. Só ao fim deste tempo se descobriu a esquiva bactéria que tinha reclamado já a vida de trinta dos congressistas: uma bactéria que se alojaria nos sistemas de ar condicionado do edifício, a legionella pneumophila. O Hotel Bellevue-Sratford já não existe, não conseguiu sobreviver à nefasta publicidade trazida pela bactéria e foi transformado em escritórios e condomínios privados; dos legionários de setenta e seis poucos sobrarão, mas para todo o sempre a doença provocada pela legionella pneumophila continuará a levar o romântico nome de Doença do Legionário.
Ontem, ao olhar, embevecido, as fotografias do primeiro aniversário do Clube lembrei-me dos legionários do Hotel Bellevue-Stratford. Olho o grupo imenso encostado à parede da antiga Alfândega de Vila do Conde e imagino os velhos lealistas a inflacionarem antigas aventuras e a jurarem eterno amor à pátria, entre duas idas à casa de banho. Mas não se apoquentem, camaradas – não se apoquentem nem se amofinem -, porque desde sempre que a minha imaginação me vem pregando partidas.


carlos ponte

4 comentários:

  1. Também eu me sinto bem ainda.... apenas cada vez mais inibida quando leio o nosso amigo Carlos. Ele escreve tão bem melhor que nós.....
    Abraço para ele,

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  2. Essa ligação de 'legionella pneumophila' com este grupo jovem, sadio e promissor... será por acaso devida à nau quinhentista?
    Concordo com a Lurdes:o nosso amigo Carlos, bem, temos escritor!:-)
    Céu Campos Costa

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  3. (É por isso - por "esse"? - que prefiro estar calado... Mantenho-me contemplativo e sempre a aprender. Obrigado!)
    P.

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